Guia completo para criação de Sigilos Mágicos
História da Sigilização
Todos que já tiveram algum contato com a Magia do Caos certamente já ouviram falar dos sigilos. Embora hoje os Servos Astrais sejam mais populares, os sigilos estão na base da Magia do Caos, ou melhor estiveram na base do Zos Kia criado por Austin Spare na década de 50, sistema que deu origem ao que conhecemos hoje como Magia do Caos. Spare era um artista competente e um ocultista curioso e durante seu trabalho inventou técnicas de escrita automática, desenho automático e de sigilização.
As técnicas de escrita e desenho automáticos se referem ao ato de desenhar ou escrever sem passar pelo consciente, você deixa que seu inconsciente se expresse livremente. Ou seja, você entra em um outro estado de consciência e deixa que a própria subconsciência escreva ou desenhe. Existem diversas técnicas, uma bastante comum a nós: a psicografia. Você pode usar essa técnica com diversas formas de transe, desde a quimiognose (através do uso de drogas), exaustão mental ou invocação de entidades.
A leitura e o desenho automático eram formas de expressar aquilo que estava no inconsciente, a grande jogada de Spare foi fazer o efeito contrário, criar símbolos de forma consciente que pudessem ser enviados para o subconsciente, e foi assim que nasceu a popular técnica de sigilização que conhecemos.
Embora Spare tenha sido o precursor dessa técnica, sigilos mágicos são mais antigos e já foram utilizadas por outras culturas como as nórdicas e africanas. Qualquer simbolo que represente algum tipo de intento pode ser considerado um sigilo tal como entendemos. O mesmo pode se dizer de selos mágicos, cada um sendo um símbolo de um intento específico que pode ser passado de geração a geração, sem que o significado real seja necessariamente compreendido.
Semiótica da Sigilização
Você já parou para pensar que as palavras são apenas símbolos arbitrários que causam no leitor a sensação de entendimento? De fato não há nada, nesses simbolozinhos aqui, que remetem ao que eles significam. Nós simplesmente criamos a língua e ensinamos uns para os outros a forma de decodificar conscientemente esses símbolos.
Por muito tempo a linguagem era mais icônica, ou seja, os símbolos se pareciam com o que eles significavam, como nas pinturas rupestres, hieroglifos egípcios ou de ideogramas chineses. Com a evolução dos ideogramas as letras foram ficando cada vez menos icônicas para se tornarem mais simbólicas.
A criação de símbolos descolados do significante foi importante para dar conta de ideias mais abstratas, afinal, para comunicar que existe uma manada de búfalos à esquerda da caverna é possível desenhar alguns búfalos (ícones) e uma seta para a esquerda (índice). Mas como você desenharia um sistema político?
Ou seja, toda a construção do processo de comunicação teve como intenção o entendimento consciente, com o sigilo é um pouco diferente, pois ele é um símbolo que age no seu inconsciente. Claro que existem sigilos icônicos ou indiciais atualmente (muitos dos sigilos dos 40 servos, por exemplo, são icônicos ou indiciais), mas a ideia do sigilo é criar um desenho que não tivesse nada a ver com o intento.
Portanto o sigilo é uma forma de comunicação, mas com seu “eu interior”. As regras são parecidas com a da comunicação consciente, mas o segredo é justamente enganar o consciente para que ele seja inserido diretamente na mente.
O Esquecimento
O processo de sigilização foi desenvolvido para que o consciente não tenha nenhuma pista sobre o intento, por isso o processo de esquecimento do intento é muito importante. A ideia era que uma vez que o intento tenha sido colocado no inconsciente, o consciente não deveria mais ter acesso a ele, pois ele poderia atrapalhar, principalmente com a ansiedade da realização do mesmo, exatamente por isso que um dos rituais mais eficazes para ativação de sigilos é a A Caixa do Esquecimento de Lethe.
Uma vez que o sigilo tenha sido ativado, então o ideal seria que o consciente não tivesse mais acesso a ele, assim o inconsciente trabalharia em segundo plano para a realização do intento sem que tivesse os obstáculos do consciente. Se você assistiu o filme Inception (A Origem) você deve ter entendido como esse processo funciona. A ideia deve ser colocada no nível mais profundo do inconsciente e então você deixa ela lá crescendo.
E só pontuando aqui sobre uma possível polêmica sobre esquecer ou não esquecer o sigilo: Não é necessário esquecer o sigilo, é necessário esquecer o intento. Se em sua mente consciente o sigilo ainda estiver ligado ao intento, o melhor seria jogar o sigilo fora mesmo (ou queimá-lo) e esquecê-lo também. Observe que toda a questão da sigilização é um sistema de criar um “Inception” para si mesmo.
Diferença dos Sigilos para os Servos Astrais
Como hoje os Servos Astrais são mais populares que o sigilos entre os caoístas mais novos, muitos deles não vêem a diferença, inclusive acham que os sigilos tem menos importância. Mas eles são completamente diferentes, embora um servo seja comumente feito com um sigilo colado a ele, não funciona da mesma forma. O sigilo de um Servo nada mais é que o seu nome ou habilidade escrita em uma linguagem simbólica.
O Servo terá em si a habilidade descrita em em geral será usado como se fosse uma entidade externa a si, que lhe emprestará essa habilidade temporariamente. Já os sigilos agem de forma mais profunda em seu inconsciente e em geral são usados para objetivos de médio e longo prazo, principalmente em questões que se referem ao seu auto desenvolvimento.
Digamos que você precise de melhorar a auto-estima imediatamente para a balada de hoje a noite, então você usará The Carnal. É um servo que já está pronto, tem uma egrégora forte e vai te emprestar as habilidades de sedução temporariamente. Mas e se você quiser se tornar uma pessoa sexy, auto-confiante, impulsiva, libidinosa? Então você fará um sigilo e tomará para si as características que procura.
No entanto devemos lembrar que o sigilo age mais lentamente, a médio e longo prazo. Caso você precise ir a um evento ou fazer uma viagem em poucos meses você vai usar o JáTôLá, por exemplo. Mas caso você queira mudar de país, ou sempre estar sempre apto a ir a qualquer evento que queira, então você vai criar um sigilo para obter essa habilidade para si.
Outro adendo. Ao contrário dos servos que podem se tornar públicos, os sigilos são pessoais. (Há controvérsias sobre isso, eu sei.) Quando um sigilo se torna público ele automaticamente “evoluiu” para um Servo Astral, afinal a partir do momento que mais de uma pessoa acredita no poder de um intento esse se torna uma egrégora. De toda forma é sempre mais eficiente quando você mesmo faz o sigilo em vez de usar algum pronto, pois o processo de criação do mesmo é mais importante do que o sigilo por si só.
Como usar sigilos de forma eficiente
Acima expliquei a diferença de usar sigilo e servo quero deixar mais claro sobre as situações em que o sigilo pode ser eficiente. No passado já errei muito em usar sigilos para coisas que não tinham nada a ver, principalmente para intentos que se referem a fatores externos ou outras pessoas. Devemos ter em mente que o sigilo é uma semente plantada em nosso inconsciente, então o intento não pode levar em conta fatores que não estejam (ou não possam vir a estar) sob nosso controle.
Tudo pode funcionar, claro, o importante é saber como fazer o intento. Caso você tenha problemas com dinheiro, por exemplo, você não fara um sigilo para ganhar dinheiro aleatoriamente, pois isso vai resolver o problema do “agora”, provavelmente vai achar uma moeda na rua e pronto, o intento foi realizado. Em vez de se focar em dinheiro foque na sua capacidade de gerar dinheiro: “Tenho todas as habilidades necessárias para gerar dinheiro de forma que viva em fartura.”
Viagens, em vez de um local específico: “Sempre consigo viajar para onde quiser, quando quiser”
Emprego, em vez de um foco em um emprego específico: “Trabalho no emprego que sempre quis”
Pegação, em vez de focar em uma pessoa específica: “Sou atraente, sexy e interessante para qualquer tipo de pessoa que eu queira me relacionar”
E por ai vai. Creio que deu para entender a base, basta usar a imaginação e criatividade e sempre criar intentos com o máximo de eficiência. Lembre-se que o intento está sendo enviado para seu subconsciente. Não utilize palavras como “desejo” e “quero”, pois assim seu subconsciente vai te manter no eterno looping de desejar ou querer, mas não vai trabalhar no que importa de verdade, que é a realização do desejo.
Mais um adendo, não use palavras negativas e nem a palavras “não“, o inconsciente tende a ignorar as palavras negativas, o “não” acaba sendo suprimido. No caso de querer sair da depressão, por exemplo, você não usa “Não sou uma pessoa depressiva”, mas sim “Sou uma pessoa de bem com a vida e estável emocionalmente”, ou mesmo “A liberação de serotonina em meu cérebro é balanceada de forma que sempre estou feliz”.
Técnica básica de Sigilização
A técnica mais popular de sigilização, apresentada no Liber Null é a de transformação de uma frase em um símbolo abstrato. Funciona da seguinte forma:
Escreva uma frase com seu intento
Essa frase deve ser escrita da forma mais detalhada possível. Caso seja um intento para adquirir conhecimento ou habilidades, o ideal é que se escreva no momento presente. Ex: “Sou um mago excepcional que tem acesso aos registros akáshicos”. Sendo no momento presente o inconsciente já começa a trabalhar desde já para que você adquira as habilidades ou conhecimentos que você precisa.
Caso o intento tenha a ver com algo externo, você pode manter a frase no futuro, mas lembrando sempre de colocar uma data. Por exemplo, se você quer viajar para a França não deve usar “Quero viajar para França”, mas sim “Vou viajar para a França até 2020“.
Ou seja, exprime um desejo, mas sem utilizar a palavra “quero” ou “desejo” e sim o verbo ativo “vou“, e especificar a data é super importante nesse caso pois, caso contrário, você vai acabar viajando para a França em 2050 ou suas cinzas chegarão lá em 2100 ?. Você tem que ser específico no seu pedido, pois você está lidando com o inconsciente e ele precisa da informação completa, caso contrário ele vai preencher as lacunas da forma como bem entender.
Corte as letras iguais da frase
No exemplo “Sou um mago excepcional que tem acesso aos registros akáshicos” você vai tirar todas as letras repetidas sobrando:
SOUMAGEXCPINLQTRKH
Embaralhe as letras para formar uma palavra ou frase
Essa parte não é essencial, mas é bacana caso você queira criar o sigilo na forma de um mantra. É comum criar o mantra caso queira usá-lo durante a ativação do sigilo. Uma dica: Caso tenha sobrado muitas consoantes, faça bom uso das que podem ser unidas, como CH, PL, ou usar M e N como som nasal, etc. No caso do exemplo ficou assim:
TALG PENQ SURK XOMCHI
Reúna as letras em um símbolo aleatório
Essa parte pode parecer complicada, mas use uma letra base para ficar no centro e então vá juntando as letras remanescentes. Para facilitar as conecte de forma que uma use o formato da outra, assim o símbolo vai ficar menos bagunçado logo no primeiro esboço. E m seguida simplifique os traços do sigilo, depois afine melhor os traços e finalmente estilize o sigilo da forma que quiser.
Essa parte é importante que você não fique pensando muito em estética, simplesmente deixe acontecer, se liberte de qualquer tipo de pensamento negativo e faça um desenho livre, como se fosse um “desenho automático“. Também é importante que você não fique com uma ideia final em sua mente, deixe que o sigilo se faça sozinho, com o mínimo de interferência consciente possível.
Só um adendo quanto a esses exemplos. Eu fiz no computador simplesmente por que eu tenho grande facilidade e sou adepto da TecnoMagia, mas você pode utilizar qualquer meio, inclusive eu acredito que fazer no papel de próprio punho é mais efetivo para internalizar o sigilo, pois se torna um trabalho multi-sensorial. No entanto não há regras, o principal é que você direcione toda a sua atenção ao sigilo que está sendo criado.
Outras formas de sigilização
Existem inúmeras formas de sigilização, vou citar algumas mais comuns.
Processo numérico de 9 quadros
Nesse processo você transforma cada uma das letras restantes em seu número correspondente no sistema numerológico, para entender como funciona veja a imagem lá de cima que tem uma tabela numérica. Nesse caso o intento que exemplifiquei se tornaria a sequência 6753847292831. Então basta usar um quadro 3 x 3, como exemplificado abaixo.
O primeiro número começa no quadro especificado com uma bola (conte os quadros na ordem de leitura), então risque até o próximo quadro que representa o segundo número e assim por diante, até ter passado por todos os quadros correspondentes ao número de seu intento.
Para facilitar você pode usar a ferramenta SigilScribe, que automaticamente já faz um sigilo para você. O Sigil Generator usa a mesma técnica, mas com uma mecânica um pouco diferente, além disso você pode escolher outros modelos, como o Da Roda da Bruxa, Sigilo Musical, Kuji Kuri (Símbolos com a mão, tipo aqueles de Naruto) e outros.
Usando a Roda da Bruxa
Essa técnica é parecida com a explicada acima, no entanto não é usando a numeração de letras e posição sobre 9 quadrados e sim sobre uma roda que contem todas as letras do alfabeto. Basicamente você pega as letras finais depois de embaralhadas, ou transformada em mantra, e segue com as linhas através da roda formando o desenho final. Segue abaixo como ficou meu sigilo usando a “Roda da Bruxa”.
Adendo sobre sigilização on-line
Aqui é uma opinião pessoal minha. Como eu disse você pode fazer seu sigilo como quiser, no entanto quanto mais energia gasta na criação do sigilo, mais energia você está colocando em seu intento, por isso não sou adepto da sigilização on-line, a não ser que eu mesmo criasse o script para sigilização. Um dos grandes problemas atuais é o imediatismo mágico e muita gente já está percebendo que não funciona dessa forma, você tem que criar uma conexão mental real, seja com o sigilo, seja com o servo, ou com qualquer ritual que fizer.
Portanto, a não ser que você realmente tenha um problema físico que lhe impeça de criar seu próprio sigilo manualmente, sempre prefira fazer a mão.
Outras formas de sigilização
Como disse existem inúmeras formas de sigilização e você também pode criar sua própria forma de criar sigilos. Ao lado temos o exemplo de sigilo musical usando a ferramenta Sigil Generator, caso tenha conhecimento musical você mesmo pode fazer (aqui o Gabriel falou um pouco sobre isso), aqui um texto completo sobre a criação de sigilos musicais. Também existem os sigilos corporais que o João comentou no grupo.
Brinde: Sigilo de Bricolagem (Pictosigilo)
Essa fantástica forma de sigilização foi apresentada a pouco tempo no grupo de Magia do Caos pelo Guilherme. Ele tinha dificuldade em fazer sigilização da forma clássica e criou o Pictosigilo. A base é a seguinte, em vez de embaralhar as letras você resume para as palavras base do intento, depois troca as palavras por outras que tenham significado similar. Exemplo:
“Tenho forças para vencer qualquer batalha”
Tenho – possuo – roubo – tomo
Força – poder – energia – eletricidade – raio
Vencer – vencido – estragado – fora da validade – maionese
Batalha – guerra – sangue – vampiro – Temer
Com as palavras finais você busca por imagens que tenham a ver com as mesmas e faz uma bricolagem, ao lado você vê qual foi o resultado do exemplo.
Ativação e Energização do Sigilo
Conforme você deve ter entendido no texto, a criação do sigilo já é (ou deve ser) carregada de energia. Para quem está acostumado talvez o próprio ato de criação já pode ser considerado o ato de ativação. Mas para ter certeza que você ativou o ideal é fazer algum ritual de ativação.
A forma de ativação mais comum (e que o povo adora ?) é o orgasmo. Você simplesmente se masturba e no momento do orgasmo olha para o sigilo e o mantém no campo de visão enquanto estiver naquela ondinha boa.
No entanto você pode ativar o sigilo de diversas formas, segue alguns exemplo:
- Queimar o sigilo entoando seu mantra.
- Desenhá-lo em uma vela e deixá-la queimar.
- Entoar seu mantra antes de dormir.
- Visualizar o sigilo diversas vezes nos primeiros dias.
- Manter ele no papel de parede durante a primeira semana.
- Hiperventilação enquanto olha o sigilo.
- Meditação enquanto olha o sigilo.
- Quimiognose.
- Simplesmente jogar fora ou queimar.
Lembrando aqui que há uma controvérsia sobre esquecer o sigilo ou não, eu pessoalmente acho mais efetivo esquecê-lo pelos motivos que você já leu aqui. Na verdade acho que o principal ritual de ativação é esquecer o intento. A ansiedade causada pela lembrança do mesmo pode atrapalhar o inconsciente pois ele passa a conectar a ansiedade ao intento e pode acabar achando que o que você quer é a expectativa e não a realização.
Considerações Finais
Embora esteja bem explicadinho vou reforçar uma coisa: sigilos são mais eficientes quando você usa para o auto-desenvolvimento, seja para mudar traços de personalidade, perder medo ou timidez, acabar com crenças limitantes, etc.
Embora possa acontecer de um intento funcionar imediatamente, não tenha pressa, use para desenvolvimento de intentos de médio e longo prazo, deixe rolar.
Outra coisa, quanto mais energia você utilizar na criação e ativação do sigilo, maior a possibilidade dele dar certo.
E é isso, povo lindo e caótico! Qualquer dúvida comente aqui.