Santos SÃO Servidores

Muito se tem dito sobre a maneira como os brasileiros se comportam com os servidores e uma das críticas frequentes é a de que os servidores públicos são tratados como santos. Diz-se erroneamente que os agradecimentos públicos foram inventados no Brasil, o que não é verdade.

Basta olhar a recomendação que o próprio Tommie Kelly, criador d’Os Quarenta Servidores e d’Os Quatro Diabos, fez em sua página sobre os mesmos e foi traduzida aqui no Caotize-se: “Tell the Devil what you will ofter in return – an offering of incense/candle, or a public thanks are standard.

Muito bem, pra elucidar a questão vamos botar MAIS lenha na fogueira com a seguinte afirmação: santos SÃO servidores!

O quê?!

Sim, amigo caoísta, psiconauta ou como queira o tratamento. 

Os santos católicos, assim como as entidades da Umbanda, são servidores. Não, não os orixás. Esses são forças da natureza representados de forma arquetípica, como os deuses nórdicos, egípcios, do panteão greco-romano ou de qualquer outro. A diferença é que as entidades da umbanda foram concebidas a partir dos desejos e necessidades humanas modernas e ganharam a roupagem da época em que foram criadas. Zé Pelintra se veste como um malandro da década de quarenta e, se tivesse sido criado hoje em dia, ele usaria um boné de aba reta e um cordão com um medalhão. A partir do momento em que essas entidades são concebidas, cria-se uma egrégora em torno delas que é fortalecida à medida que mais pessoas acreditam nelas. Os orixás, em contrapartida, existem, sempre existiram e continuarão existindo mesmo que a humanidade seja extinta porque a natureza continuará existindo (tomara!).

“O leitor já deve ter visto ou ouvido falar da incorporação nas cerimônias de Candomblé, (…) o fato das divindades existirem ou não objetivamente (…) não tem importância para a prática mágica, ou aspectos subconscientes revestidos com a roupagem dos deuses ou representações das forças cósmicas, (…).” Marcos Torrigo – Rituais de Aleister Crowley 

Diz-se comumente que “Deus criou o Homem à sua imagem e semelhança” porque foi a humanidade que criou os deuses à sua. Por isso o Trovão aparece loiro na forma de Thor para os nórdicos, negro na forma de Xangô para os iorubás e indígena como Tupã para os habitantes originais da Ilha de Vera Cruz. Mas voltemos aos santos.

 De cima pra baixo, Thor, Xangô e Tupã. De cima pra baixo, Thor, Xangô e Tupã.

Muitos dos santos também representam deuses e forças da natureza e no século XVII a Igreja Católica (Romana) sim, porque existem a Ortodoxa e a Copta criou a “ciência” da hagiografia para autenticar a existência deles criando um histórico de vida fake para cada um baseado em histórias da mitologia grega ou de deuses pagãos.

À esquerda, Belerofonte e a Quimera. À direita, São Jorge e o Dragão.Belerophonte  e a Quimera/São Jorge e o Dragão

O Arcano IX, O Eremita, se tornou o São Longuinho. Por que não? Se Os Quarenta Servidores podem ser usados como tarô adivinhatório, por que um arcano do Tarô não poderia se tornar um Servidor Católico? 

À esquerda, o Arcano Nove, O Eremita. À Direita, imagem de São Longuinho.

Reitero que santos são servidores. Você já deve ter reparado que padarias e bancas de jornal muitas vezes têm a imagem de São Jorge no canto, exatamente no ângulo de 90 graus. No Feng Shui, diz-se que o ângulo de 90° perverte e oblitera o Chi, convertendo o Cheng Chi, harmônico, em Sha Chi, desarmônico. A imagem ali visa, inconscientemente, corrigir a frequência da energia telúrica (o azoth) do ambiente, para falar em termos ocidentais. Sua avó ou alguma tia mais velha tem a imagem de Santo Antônio próxima à porta de entrada da casa e acende uma vela ou deixa uma lâmpada acesa pra ele a noite toda mesmo que todas as luzes da casa estejam apagadas. Isso porque esses santos são servidores públicos. 

Mas quais as semelhanças entre os santos católicos e os servidores? Bem, pra responder essa pergunta, vamos a outra: quais os requisitos para se criar um servidor?

1) Nome- de preferência que tenha a ver com o intento a ser realizado.

2) Função- ele foi criado pra executar exatamente o quê

3) Sigilo- de preferência feito com as letras que compõem o nome.

4) Forma- não é pré-requisito mas é bom que tenha uma. O sigilo feito com as letras que compõem o nome já pode ter a forma do servidor.

5) Local de Morada- um objeto onde o servidor, o espírito, a inteligência criada pelo magista (derivada de sua própria psiquê) irá “morar”. O servidor “possui” o objeto. Uma estátua seria uma opção interessante. Os egípcios e o vodu a chamam de efígie

6) Forma de Alimentação- e digo “forma” e não “fonte”, porque o importante não é de quê, mas de que forma, de que modo, de que maneira ele vai se alimentar.

7) Tempo de Vida- é importante estipular quando ele vai morrer.

8) Forma de Destruição- geralmente, destruindo o sigilo.

A diferença entre servidores pessoais e públicos é que os segundos não têm os itens 5, 7 e 8. Os santos não têm os itens 7 e 8, tendo o 5, que são suas imagens. Às vezes, até sigilo possuem.

Sigilo de São Jorge

“Sigilo” de São Jorge

Os santos católicos são efígies e não é à toa que os evangélicos odeiam sua adoração acusando-a de prática pagã e não estão errados. Repetindo o 5º parágrafo sobre as entidades da umbanda: “A partir do momento em que essas entidades são concebidas, cria-se uma egrégora em torno delas que é fortalecida à medida que mais pessoas acreditam nelas.” 

O mesmo serve para os santos católicos. O termo “católico” significa “universal” e a Igreja universalizou os mitos pagãos convertendo-os em santos – servidores públicos. Os rituais de subir escadarias de joelhos, chicotear-se ou dar três pulinhos são as formas de se ativar esses servidores e as formas de se canalizar a força de vontade em favor do intento.

Portanto, antes de ficar latindo a sua síndrome de vira-lata por aí, saiba que os agradecimentos públicos aos servidores são algo mundial e “tratá-los como santos” é uma permuta justa, já que os santos são tratados como servidores.



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